Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

sábado, 21 de março de 2009

Um Estranho Caso de Amor - O início

1. Exposição
Ele corre pelas ruas da cidade. Normalmente estas suas corridas dão-lhe sempre uma sensação de desprendimento, de liberdade, mas desta vez sente-se desprotegido, exposto, envergonhado. Os pés doem-lhe, sente as rugosidades do asfalto e o impacto do chão anormalmente intenso nos calcanhares. Repara que está descalço. Quer parar mas o seu corpo não lhe obedece. Sente o vento em todo o corpo e uma estranha mas familiar sensação de leveza que apenas vive quando deambula sem roupas pelo seu apartamento de homem solteiro e bem sucedido...
"Estou nu, completamente nu!!!" A angustia e uma enorme vergonha tomam conta dele. Leva as mão ao baixo ventre e tapa o orgulho da sua virilidade. Nunca tinha tido vergonha do seu corpo, aliás orgulhava-se dele, mas agora esse corpo estava deformado, diminuido, mirrado. Queria esconder-se num beco qualquer mas continuava a correr, descontrolado. As suas pernas estavam decididas a causar-lhe o máximo de vexame possível e dirigem-no pelas ruas mais movimentadas, através de centros comerciais, por entre as filas de carros parados nas filas de trânsito. Ninguém parece notá-lo mas isso não o alivia. Sente o peso da vergonha de uma forma que nunca sentiu antes. O pânico toma conta dele quando se apercebe do caminho pelo qual as suas pernas o transportam.
Está a aproximar-se do edifício onde trabalha. Entra no enorme hall e, subitamente, para. A respiração ofegante, o corpo suado, as pernas dormentes. As pernas finalmente fizeram-lhe a vontade mas no pior sítio do mundo. Grita um grito mudo que ninguém à sua volta ouve. Estão todos parados a observá-lo e a rir. Ruidosamente uns, subtilmente outros. Sente o escárnio daquelas pessoas a cravar-lhe o corpo como se de murros se tratassem. A sua mente grita, agita-se, luta para voltar a correr para trás, e voltar à indiferença das ruas mas as sua pernas caminham agora lentamente.
Entra no elevador. Estranhos entram também, querem prolongar aquele divertimento inesperado num local onde nada de novo acontece. Ele vê o seu reflexo nas portas metálicas e frias do elevador. Quem é aquele homem? Magro, quase esquelético, cabelo baço e ralo, desdentado, pés e mãos desproporcionalmente grandes para aquele corpo, sem pelos exceptuando uma farta mini-cabeleira rodeando o seu pénis diminuto. A porta abre-se, entra na divisão onde trabalha. Todos os seus colegas festejam a sua vergonha. Há champanhe, confettis, música e... um palhaço acabadinho de chegar. Caminhou pelo longo corredor de secretárias e ouviu gritar o seu nome. Caminhava agora curvado, como se se arrastasse, os braços caídos, os joelhos dobrados. entrou no seu gabinete e sentou-se. Conseguia ver as pessoas a festejar através das paredes transparentes e a chamar por ele. O telefone toca.
Rodrigo acorda suado, os músculos contraídos enquanto procura, de olhos ainda fechados, o despertador que lhe berra aos ouvidos. Senta-se na cama e sente-se estranhamente cansado, as pernas a latejar. Levanta-se e enfia-se no duche.

7 comentários:

S* disse...

Estou a gostar... aguarda-se proximo capitulo. :)

Miguel disse...

Eu também aguardo o próximo capítulo pois, neste momento não faço ideia de qual será o seguimento da história!!!~
Sugestões?

Ana C. disse...

Posso-me infiltrar na história descaradamente?

Miguel disse...

Claro Ana!!! Foi para isso que este espaço foi criado, ou não??
Força!

Ana C. disse...

Deixa-me só pôr a minha filha a dormir a sesta que eu já tas conto.

Banita disse...

Gostei do sonho: humilhante qb! ;)

Carla disse...

Coitado do Rodrigo, acho que ele vai sofrer um bocado, ou não ?

(num intervalo, entre um café e a blogonovela ;)