Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Inverno e a Aldeia.

-JOANA! JOANA! ONDE ESTÁS??
Júlio corria desesperado pelas sombras de S. Vicente enquanto procurava pela casa de Joana. Apercebia-se de vultos que se escondiam nas sombras das esquinas e atrás das cortinas das janelas mas já nada temia. O seu coração empurrava-o para Joana. Encontrou a casa, finalmente. Entrou devagar, cuidadoso, não porque temesse algo mas porque queria apanhar quem quer que fosse que tivesse ousado tocar num só fio de cabelo da sua amada. Retesou os músculos quando viu um vulto curvado no chão, como se tentasse esconder-se mas deixando ver uma espécie de arma. Um bastão ou uma catana. Entrou de rompante e pontapeou fortemente o vulto agachado.
-FILHO DE UMA PUTA SARNENTA! ONDE EST.... Padre?! Oh meu deus, Padre?!?!?!
Júlio não acreditava no que estava perante si. O Padre arrefecia as pedras do chão com um crucifixo trespassando-lhe o peito. Branco, vazio, morto.
-Padre, padre, padre!!! JOANA! JOANA!
Júlio gritava pelo nome da sua mulher enquanto subia desastradamente as escadas.
-JOANA!! Joa... Não, por favor não. Deus meu Joana....
Ajoelhou-se perante o cadáver mutilado da sua Joana. Acariciou docemente a sua face que lhe gelou as mãos. As lágrimas que lhe molhavam a face estavam elas próprias geladas. Pegou-lhe nas mãos e afagou os golpes fundos nos seus pulsos. A barriga vazia de Joana denunciava o destino do filho de ambos. Como um autómato, Júlio percorreu todo o corpo de Joana, afastou-lhe as pernas. O fio da vida que saía de dentro dela estava rasgado. Como se tivesse sido mordido por um animal selvagem esfomeado. O sangue coagulado pegava-se a ele, ás suas mãos, infiltrava-se nas suas unhas, na sua face. O cheiro metálico do sangue em decomposição entrou pelo seu nariz, pelos seus poros e atingiu-o finalmente. Júlio não pode conter um vómito que largou num canto. Estava desesperado. O seu amor morto, o seu filho morto ou pior... não havia já esperança naquele coração. Até que...
O inconfundível choro de uma criança iluminou o seu coração, deu força aos seus músculos, iluminou a sala. Num salto Júlio desceu as escadas mesmo a tempo de ver um vulto curvado dobrando a esquina. Correu atrás dele.
-ANIMAL IMUNDO! VAIS MORRER PELAS MINHAS PRÓPRIAS MÃOS! PÁRA! DEVOLVE O MEU FILHO!!
O vulto desapareceu nas sombras e Júlio parou no meio do caminho. Dobrou-se e apanhou um objecto perdido pelo fugitivo: uma adaga brilhante, ensanguentada.
_Quem com ferros mata, com ferros morre, filha da puta bastardo de uma égua...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Inverno e a Aldeia.

O estrondo da porta transfigurou o Padre, branco de terror, de medo, mas de excitação não contida e de sede de sangue. O mesmo sangue que fugia do corpo de Joana, ela também baça de cor e de vida. Agarrava a sua barriga com as mãos brotando sangue e com sangue era baptizado o seu filho, agora a sufocar sem o sangue vital da sua mãe. Um urro quase animal ressoa nas fragéis paredes daquela maldita casa...
"MONSTRO!!! UM DE NÓS MORRERÁ ESTA NOITE!!!
Um grito lancinante rasgou as entranhas da Joana que, deitada no chão, as pernas afastadas, agarrava-se aos joelhos. A dor transfigurava-a. Alberto optou por ignorar os gritos do vulto que pontapeava o escuro no andar de baixo. Ajoelhou-se frente a Joana e viu. O bebé vinha a caminho.
"Pai Nosso que estás no céu, santificado seja o nosso nome. Filho de Satanás, filho das sombras é chegada a tua hora.... NÃO PASSARÁS!!!!"
Elevou a adaga ensanguentada "Com o sangue da puta da tua mãe morrerás..." os murmúrios invadiam as sombras, ele podia ouvi-los. Susteve a respiração e...
"MORRE CABRÃO!!!" o vulto materializara-se sobre ele. Sentiu o peso de um homem em cima dele e rebolaram pelo chão que rangia desesperadamente. Debateu-se o padre como pode face a um monstro que desaparecia nas sombras. Esbracejava na esperança de acertar no vento. Sentiu um murro na face e depois um pontapé na cabeça. Sucumbiu rapidamente. Voltou-se para cima, um olho já fechado pelo sangue e viu o homem que o atacara, sujo, magro, ofegante...
"Tu... não sabes o que fazes... perdoo-te meu filho..."
Um pontapé em cheio no crucifixo que jazia no peito do padre fez ceder o frágil soalho. Alberto caiu com estrondo no chão de pedra. A cruz de cristo em cima da mesa trespassara-lhe o coração.
"Com Cristo morres cão sarnento."
Joaquim aproximou-se de Joana que contraía o abdómen, esvaída de sangue e de forças.
"Joaquim? És tu homem..."
"Sim, sou eu. Andei perdido sem saber quem era mas agora aqui estou."
"O meu filho?"
"Tomarei conta dele."
Joana respirou fundo e, enquanto gritava do fundo de si, expulsava do seu ventre o seu filho. Joaquim segurou no menino, limpou-o. Agarrou no cordão que alimentava ainda o bebé e cortou-o com os próprios dentes. O bebé chorava e Joaquim também.
"És o nosso salvador..."
Joana jazia, morta.
Júlio entrava na aldeia, vazia.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Miguel Corre

Corre, corre, corre, corre, corre, corre e não escreve nada...