Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão - Êxtases

Uma chuva miudinha molhava a terra vermelha do cemitério da propriedade Netherfield naquela tarde abafada de Verão, criando pequenos córregos encarnados que escorriam entre os sapatos e barras das saias dos poucos presentes à volta do caixão. Ninguém dizia nada. Ninguém se entreolhava. Não havia lágrimas, nem choro. O esquife baixa à terra enquanto o padre diz as suas últimas palavras.
- Vieste do pó e ao pó voltarás, Constança Belleview.
Gina levanta os olhos pela primeira vez, e mesmo sob o véu que lhe cobre respeitosamente a vista, encontra o olhar cheio de ódio de Daniel. Gina abana a cabeça, perturbada como se dissesse que não.
Não, não fora ela a cometer aquele crime hediondo.
- Descanse em paz, Mrs. Belleview.
O padre retira-se. Pouco a pouco, os empregados da mansão Netherfield o seguem, numa procissão cheia de sussurros e troca de olhares evitados durante a cerimónia fúnebre. Gina vê que lhe apontam o dedo, que dizem o seu nome em surdina.
No meio deste incómodo, sente uma mão firme sobre o seu ombro. Vira-se.
- Venha comigo. Você está visivelmente abalada e precisa de descansar.
- Os empregados vão falar, Sr. Netherfield. – diz com uma voz grave.
- Desde que não a importunem, podem falar à vontade. Mas o primeiro que a incomodar será despedido.
Netherfield oferece-lhe o braço, que Gina aceita, relutante. Saem os dois em direcção à mansão. Gina ainda olha para trás, para encontrar mais uma vez o semblante de raiva de Daniel sob a chuva que começa a cair mais forte. Mas um casaco quentinho que cai sobre si como um abrigo afasta-a daquela visão sombria.
- Obrigada, Sr. Netherfield.

Chegam completamente ensopados à pequena sala privada de Netherfield, pois um longo caminho separa o cemitério da casa grande. Gina tira os grampos que prendem o véu e o xaile que cobre o seu regaço, deixando que os seus cabelos fartos rolem sobre o seu peito generoso. Netherfield não esconde um ar de surpresa. Corando, Gina desculpa-se e faz-se à saída.
- Muito obrigada por me ter acompanhado, Sr. Netherfield. Se precisar de alguma coisa, estarei no meu quarto…
- Gina…
A voz é rouca, com um sofrimento e ânsia contidos.
- Fique, por favor. Beba um brande comigo.
Envergonhada, Gina senta-se. Aceita o brande que Netherfield lhe põe nas mãos. Cansada dos últimos eventos, Gina bebe o brande de um só trago. Pouco habituada ao álcool, o calor invade-a de súbito. Netherfield repara e ri-se.
- Deixe-me ajudá-la.
Netherfield solta os atilhos do decote de Gina, que, assustada, salta para trás. Um pensamento invade-a, aquecendo o seu coração.

Laura não está lá. Laura morreu. Ela está livre daquele demónio.

- Desculpe, Gina, só queria ajudar…
- Oh, e ajudou, Sr. Netherfield… - Gina segura a mão dele sobre o seu peito – ajudou muito. Obrigada…
Gina larga a mão de Netherfield, que afrouxa a pressão que fazia sobre os atilhos da blusa dela. Estão soltos, e os seus seios estão agora em plena liberdade. Inebriada pelo brande, Gina suspira de olhos fechados e deixa-se relaxar completamente sobre o sofá. Netherfield tem a respiração acelerada.
- Menina Virgínia…
Num sorriso lânguido, Gina replica.
- Chame-me Gina, senhor. Gina, apenas.

Netherfield entende aquele singelo consentimento e enlaça-a num beijo longo e morno, que para ela tem sabor a um pecado consentido, desejado. A língua dele é sôfrega e explora os seus recantos. Lábios, pálpebras, lóbulo… pescoço… nuca. Gina é pura alegria e liberdade. Decidida, alcança o membro de Netherfield, enrijecido sob as calças. Desembaraça-o em movimentos rápidos e, fazendo deslizar o seu desnudo tronco para baixo, sorve toda a masculinidade daquele homem, que uiva de prazer. Gina olha-o nos olhos enquanto lhe dá aquele momento de satisfação oral, lânguida, húmida.
Querendo retribuir, Netherfield puxa o seu frágil corpo e, num único impulso viril, coloca-a sentada no braço do sofá, mergulhando entre as suas saias, encontrando as suas partes moles e quentes e saboreando o doce néctar que Gina lhe oferece.
Nunca foram tão felizes. Nem tão livres.
Fazendo com que Netherfield se sente, Gina, afastando bem as suas pernas, senta-se lentamente sobre o seu sexo, sentindo aquela maravilhosa e libertadora dor, tomando ela as rédeas do acto, sendo ela a agente daquela penetração. Netherfield agarra-a pela cintura e embala-a com ritmo, doce ao princípio, cada vez mais frenético a cada investida. Têm os olhos fechados ao aproximar-se do inevitável êxtase.
O relógio da sala bate as doze badaladas enquanto os dois se banham no calor e humidade um do outro, gemendo alto. Ter-se-ão passado assim tantas horas, Gina pensa rapidamente. De facto, é noite lá fora. As cortinas estão abertas.
Nada importa. Netherfield e Gina chegam ao clímax ao mesmo tempo. Netherfield, exangue e exausto, mergulha no regaço nu de Gina, que finalmente abre os olhos para as janelas. A chuvinha fina agora é uma tempestade furiosa, e um ou outro clarão invade a sala de quando em quando.
E agora ela tem a certeza.

Há uma mulher a olhá-la numa delas. Veste negro e é muito pálida.
Na outra janela, outra mulher, coberta com um véu branco.
Constança.

O coração de Gina pára. Netherfield larga-a, de repente. Gina olha-o e vê que o seu olhar está fixo na porta.

Lá está Daniel, encharcado, com um machado na mão. O seu olhar pede sangue.

sábado, 29 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão: num quarto esconso.

"AIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!"
Num quarto escuro e esconso uma mulher gritava de dor. Gotículas de suor teimavam em formar-se na sua testa muito embora já todo o corpo estivesse húmido e escorregadio. Esta mulher estava acompanhada por uma outra, velha, mão sujas de sangue, olhar apreensivo. Apoiada nos joelhos flectidos daquela mulher deitada à sua frente, a velha forçava as pernas contra a barriga proeminente enquanto gritava:
"FORÇA!! FAZ FORÇA AGORA EMÍLIA!!! JÁ VEJO O BEBÉ!! FOOOORÇA!"
Uma pequena e ensanguentada cabeça anunciava-se através da vagina de Emília. Ficou preso naquela posição mas, após mais um grito de desespero da parturiente, o bebé conseguiu finalmente dar o seu primeiro suspiro fora de água. Quando a velha parteira o puxou para fora do ventre materno já a pequena criatura anunciava, aos berros, a sua chegada ao mundo!
"É uma menina Emília... uma linda menina!" anunciou a velha enquanto colocava a bebé ainda suja de sangue e de uma mistela verde-acastanhada no regaço da sua mãe. Mas esta não reagia. Não abraçou a sua filha, não chorou a sua chegada. Estava pálida, imóvel, os lábios negros. No meio de tanta preocupação com a menina, a velha não se tinha apercebido do estado de Emília. "Oh meu Deus, meu Deus, ajudai-me nesta aflição". O sangue vermelho vivo jorrava imparável por entre as pernas de Emília. O cordão umbilical rompido percorria o caminho de volta para as entranhas de Emília. A velha puxou, o resto do saco ficou dentro do útero de Emília e impedia que este se contraísse e contivesse a extensa hemorragia. A velha fez tudo ao seu alcance mas este era demasiado curto para valer a Emília. Estava morta. A velha tapou o corpo pálido e frio de Emília. Limpou a bebé com um pano limpo e olhou para um canto escuro daquele pequeno quarto. Uma pequena menina brincava com uma velha boneca de trapos, suja e já sem cabelo, aparentemente alheia a todo aquele cenário. "Vamos Virgínia, vamos embora." A bebé olhou para a velha, dirigiu-se a ela e dando-lhe a mão, saíram do quarto.
Após o funeral, a velha dirigiu-se ao velho orfanato. Uma freira com ar sereno e doce acolheu-a com bonomia. Recebeu a bebé nos braços enquanto Virgínia se escondia atrás das saias da velha. A boa freira baixou-se e sorriu-lhe. A velha empurrou-a suavemente e Virgínia deu a sua mão à mão estendida da freira. A velha virou costas e disse: "Essa chama-se Virgínia. A bebé não tem nome."
"Laura. Chamar-se-á Laura."
As meninas cresceram sem nunca saberem o seu parentesco. A velha e seca Madre-Superiora assim tinha determinado. Mas desde cedo as meninas se aproximaram. Andavam juntas, comiam juntas, dormiam juntas e eram castigadas juntas porque juntas faziam as travessuras de meninas. Quem as via tão juntas, tão cúmplices, tão felizes na companhia uma da outra dizia que, se fossem irmãs eram perfeitas uma para a outra. Os anos passaram. Juraram que sairiam juntas daquele cárcere. Juraram que seriam companheiras até ao final da vida, que encontrariam maridos juntas e que em casas juntas viveriam. No dia em que Laura viu Gina a abandonar o orfanato pela mão de tão distinto homem algo dentro dela mudou. As lágrimas corriam-lhe pela face mas não as sentia. Tornou-se indomável e destruidora. A destruição que tinha tomado conta dela estava a alastrar-se para fora de si mesmo. E sentia-se estranhamente atraída pelo fogo. Uma série de pequenos incêndios aconteceram então no orfanato e Laura encontrava-se sempre envolvida. Embora não se lembrasse de alguma vez ter ateado o fogo, era constantemente encontrada inconsciente nos locais ardidos. Até que acordou um dia no meio de um grande incêndio no seu quarto. Estava atordoada, não sabia o que se estava a passar. Desesperada, saltou pela janela em chamas e caiu desamparada na rua das traseiras do orfanato. As freiras gritavam e corriam desordenadamente em todas as direcções. Laura viu a sua liberdade ao esticar da mão e agarrou-a. Fugiu para não mais ser encontrada.
Marcada pelo fogo no seu abdomén, parou e desmaiou junto a uma casa simples. Uma mulher viu-a e acorreu em seu auxílio. Tratou dela até Laura acordar. "Não te preocupes minha menina... qual é o teu nome?"
Com uma voz fina e trémula, Laura respondeu: "Constança... o meu nome é Constança."

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Que cheiro é este?

É a Constança que está morta desde terça-feira...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão - Olhos nos olhos

- Não adianta esconder-se, Constança... não adianta!!! Achava que eu não me ia lembrar?
Constança olha para os lados, entre os estampidos secos da porta. Maldita sejas, Gina, maldita! A porta vibra com as pancadas.
- Pelo poder da Hóstia Consagrada, Deus há-de me dar forças para derrubar essa porta!
Constança está encurralada. O seu maior segredo, aquilo que levaria com ela para o túmulo, fora trazido para a luz do dia. “Que idiota”, pensou. Mas a culpa era toda dela. Afinal, pesquisara durante quase todo o ano passado sobre o paradeiro de Virgínia Pureza. Fora a cartórios, notários, revirara prateleiras e prateleiras de arquivos paroquiais nas suas horas vagas. Na ausência de pistas, usara as suas parcas economias para contratar um detective particular, que finalmente resultou em alguma coisa.
Descobrira que Virgínia havia sido adoptada por um bom homem, viúvo já com filhos, muito parecido com o próprio Se. Netherfield. Descobrira também que Virgínia casara pouco mais velha que uma adolescente e que trabalhara em duas empresas... duas empresas cujos escritórios em que Gina trabalhara arderam por completo em “circunstâncias não esclarecidas”, segundo o relatório da Polícia, mas que havia fortes indícios de fogo posto.
- Abra já esta porta, Constança! IMEDIATAMENTE!

A voz dela acompanhava o crescendo de força com que ia batendo à porta. Constança engole em seco. Levanta-se e caminha em direcção à janela. “Mas encontrei-a, por fim. Por fim, encontrei-a”, pensa.

A porta abre e lá está Gina, com fogo nos olhos. Constança, nua, vulnerável, encostada contra a janela daquele terceiro andar, só consegue murmurar.
- Por fim encontrei-a, Virgínia.
- “Virgínia”?
Gina dá uma gargalhada enlouquecida. Solta os cabelos que caem pelos ombros, atira-os para trás e caminha bamboleante em direcção a uma assustada Constança.
- “Virgínia”? Estás a falar daquela totó que se escondia por baixo das saias das freiras?
Gina encerra Constança contra a parede, entre as suas duas palmas.
Sem escapatória.
- A Virgínia morreu num incêndio.
- Não... não... a Laura é que morreu, Virgínia. A Laura, não tu. Eu sei... eu tenho aqui as provas, se me deres um momento...
Gina aproxima a sua boca da de Constança, e é num sopro quente e doce que sussurra.
- Não me chames Virgínia.
Começa a explorar-lhe o pescoço... as orelhas... a queda do ombro.
- Virgínia, por favor, não... se soubesse quem eu sou...
Uma pequena mordida no lóbulo. Alguma dor.
Gina traz uma gota de sangue nos lábios e duas gramas de ódio nos olhos.
- Não me chames Virgínia quando sabes o meu nome.
Constança está apavorada. Pior que apavorada, está a sucumbir àquela mulher voluptuosa que explora os seus seios com a ponta da língua de forma precisa, quase cirúrgica, sem nunca tirar da parede as palmas das mãos.
Virgínia desce. Desce para o sul do corpo de Constança, degustando de cada centímetro da sua pele de leite, das suas gotículas de suor e de culpa.
E é a Sul que o pecado mora.
A respiração de Constança é ofegante, mas não vai deixar que os anos de solidão a deixem cometer o maior sacrilégio da sua vida.
E é quando Gina chega com os seus lábios aonde nenhum outro homem chegou, que Constança grita, vencendo-se a si própria. Puxa Gina para cima.
- Virgínia, não podes fazer isso! Não podemos fazer isso! Tu disseste que sabias quem eu era, mas pelos vistos, estás enganada! Eu não sou quem pensas, não sou!!! Eu...
- EU JÁ DISSE PARA NÃO ME CHAMARES VIRGÍNIA!!!
Num impulso, Gina agarra aquela frágil mulher pelos pulsos e, num único movimento, atira-a pela janela fora.
A queda é lenta. Muito lenta.
Gina segue Constança com o olhar até que o seu corpo caia, sem fazer qualquer barulho maior que um fardo de feno, no chão.
De olhos abertos. Fixados nos seus.
E, num longo abrir e fechar de olhos, Gina acorda.
Olha para baixo, onde vários empregados já cercam o corpo de Constança. "Foi a Sra. Netherfield, valha-me Deus..." "Foi o fantasma da falecida, não fico aqui nem mais um segundo..." "O Daniel? Alguém chama o Daniel?"

Gina está petrificada.

"Daniel!!! Daniel!!!", ouve chamarem.
Mas Daniel não está no andar de baixo. Daniel está, neste momento, diante de si, com o olhar aterrorizado de quem sabe tudo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Última Chamada

Melissa mais uma vez vejo-me obrigada a recorrer ao meu poder ditatorial e, sob pena de prisão efectiva com duas horas diárias de tortura fisicamente inflingida, ordeno-te que avances com a merda da história que está parada há 12 dias.
Sem outro assunto de momento e deixando como aviso a fama de déspota impiedosa que me precede,
Anita C (de Cócó)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gina estava encostada à porta batendo displicentemente, com ar de quem não espera obter resposta. Olhava o relógio e pensava: "Com tanta coisa para fazer..."
Do outro lado, Laura estava sentada na beira da cama. Perna cruzada, a foto de Daniel perdeu entretanto o interesse. Observava as suas unhas e constatava que precisavam de um tratamento. Por quem esperam elas?
....
SIM!! Por Melissa.

domingo, 16 de agosto de 2009

Esvaída em Sangue Esperava Por... Mel

Os nós dos dedos de Gina sangravam de tanto bater, o sangue escorria já pela porta e caía no chão como uma cascata, penetrando no interior do quarto pela frincha da Constança, ups, da porta...
- Abre sua grande vaca! Não vês que me esvaio em sangue sua pêgazorra bolorenta?!! - Gritava Gina.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bate leve, levemente, como quem chama por Mel...

Gina batia e batia e a porta não abria....

domingo, 9 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão - Constança

Gina participava nas tarefas de gestão daquela imensa mansão com um rigor espartano. Entre os dedos o rosário lembrava-a que não se desviasse, que não seguisse por aquele calor que a invadia sem aviso. Apertava as contas de madre pérola com uma força que lhe vincava a pele e desviava todo o seu pensamento para a limpeza das pratas, orientação das refeições, ordens aos serviçais.
Era Virgínia Pureza quem encarnara nela e era precisamente essa Virgínia que não podia perder nunca mais. Por muito que precisasse de se sentir amada, desejada, tocada, possuída isso não era o mais importante.
- O Sr. Netherfield gosta que as pratas sejam areadas todos os dias.
A voz de Constança era pausada, grave. Como uma espada que rasgava sem pudor o silêncio.
- Ela passava horas a limpar as molduras com as fotografias de família.
- Ela quem? – Gina sentia-se meia atordoada ainda com a aparição inesperada daquela estranha personagem.
- A Sra. De Netherfield, a falecida. – A voz prosseguia como um sussurro secreto. – Sabe que ela ainda anda por aqui a vigiar-nos a todos.
Instintivamente o rosário foi esmagado entre os dedos suados de Gina.
- Que disparate tão grande Constança, não tem nada para fazer? A roupa de cama foi engomada?
Mas Constança não desarmava o sorriso sinistro.
- Porque é que pensa que nenhuma governanta parou por aqui mais do que uns dias? Ela expulsa-as sem dó, nem piedade. A Sra. Netherfield jamais deixará outra mulher, além de mim, perto do marido. Ela só confia em mim. Ela sabe que o marido nunca me tocou, como fazia com as outras rameiras que se esfregavam nele como gatas no cio…
Gina ensaiou uma resposta, mas Constança já virara costas em direcção à escadaria. Enquanto a via subir os degraus um arrepio de horror trespassou-a ao meio, quebrando-a. Gina conhecia aquele olhar, aquele sorriso, aquela voz agora madura lembrava-a de outra voz infantil, não, não podia ser, não era possível, Laura estava morta...

Ao fechar a porta do pequeno e bolorento quarto que lhe pertencia, Constança soltou uma gargalhada gutural, bem de dentro de si. Dirigiu-se à gaveta da cómoda carcomida e com a chave que trazia ao pescoço, abriu-a, retirando do seu interior um pequeno molho de fotografias antigas, muitas delas meio queimadas pelo fogo.
Duas meninas de tranças olhavam-na do lado de lá do papel, como se ainda vivessem, como se pudessem sair de lá a qualquer instante. Rasgou a imagem ao meio, dividindo o abraço das amigas em dois, o seu olhar faiscava no mais terrível dos fogos, o da inveja.
Guardou os dois pedaços de novo e retirou agora uma fotografia de Daniel, assim que lhe tocou perdeu a força nas pernas e caiu sobre o colchão de palha mal cheiroso. Aqueles olhos, aquele rosto, os cabelos em desalinho .
Fez descer “Daniel” por dentro da sua roupa, passou pela zona onde a pele não sentia, aquela mancha acastanhada e enrugada, aquela gigantesca cicatriz que lhe roubara a possibilidade de amar. Prosseguiu a descida aos infernos que a deixava louca e pousou a fotografia bem ali, onde nunca ninguém tocara, esfregando-a como se quisesse arrancar a sua própria virgindade daquela boca infernal. Sentindo Daniel sobre ela, beijando-a no lugar onde tudo começava e acabava.
- Beija a tua Laura, suga-a bem aí. A Laura gosta Daniel, sim...
Mas o bater na porta arrancou-a ao êxtase. Um bater furioso, determinado, violento.
- Abre já esta porta!!!!! Eu sei quem és Constança, eu sei quem és!!!!!!
A voz de Gina gelou-a por dentro.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão: Laura.

Gina abrandou enquanto as grossas lágrimas lhe desfocavam a visão. Apoiou-se na parede suavizada pelo papel de padrão vitoriano que forravam todo o corredor e, como se as forças lhe tivessem fugido, sentou-se chorando compulsivamente. Na sua face uma máscara de dor intensa, como se aquilo que sentia fosse um ferro em brasa que lhe queimasse a pele e a deixasse marcada. E Gina estava marcada. Como se a sua mente a abandonasse, Gina regressou ao passado. Ao momento onde tinha sido tirada a fotografia que perdera no incêndio do seu quarto na casa de Netherfield.
Estava um dia esplendoroso e as freiras estavam anormalmente dóceis. Talvez o sol trouxesse um pouco de calor às suas almas frígidas de mulheres presas naquele convento. Exceptuando talvez a Madre Superiora, mulher de princípios rígidos mas uma dócil serva de Deus que educava através do amor e não das sevícias físicas, aquele grupo de mulheres tementes de Deus era constituído por proscritas. Párias que tinham sido rejeitadas pelas suas comunidades ou levadas a enveredar pelo caminho das virtudes através da força da humilhação e da vergonha. Era um dia de alegria para Gina também. Aquele era o dia da sua adopção! Ia finalmente libertar-se daquele lugar sombrio e silencioso, onde as pedras frias e despidas entoavam lamentos perpetuados pelas orações das freiras e continham os gritos e o choro das crianças agredidas e abusadas. Gina via agora o enorme portão do pátio a abrir-se e, como um anjo envolto em luz celestial, entrava o seu Pai. Aproximou-se de Gina e pegou-lhe na mão. Sorrindo, perguntou: "Permites-me que te proteja a partir de agora?". Gina envergonhou-se e, corando, acenou que sim. Saíram de mãos dadas e, ao olhar para trás, Gina viu Laura a espreitar por trás da enorme oliveira que dominava o centro do recreio. Laura chorava serenamente, destilando a imensa tristeza que sentia através das lágrimas. Laura e Gina tinham crescido juntas no Orfanato. Eram amigas e depressa se tornaram inseparáveis. A separação causou enormes danos na estabilidade de Laura que rapidamente se tornou problemática. Aumentaram os castigos físicos e psicológicos e Laura cedeu finalmente à loucura. Morrera num incêndio por ela própria causado. Ao saber disso Gina sentiu-se miserável, como se uma parte de si tivesse sido arrancada. E sentia-se responsável.
A vida avançou indiferente e Gina cresceu. Casou com o homem que amava e era amada por ele. O seu pai morrera entretanto mas tinha agora a sua própria família e era feliz. Trabalhava como secretária de uma conceituada e respeitável firma e era estimada por todos. Até ao dia em que todo o prédio onde trabalhava ardeu. Gina foi encontrada completamente nua nos escombros, deitada junto ao corpo, também nu, do dono da empresa. O incêndio foi considerado acidental mas a desgraça abateu-se sobre ela. O marido, desolado, abandonou-a levando com ele os filhos uma vez que o tribunal decidiu que Gina não era capaz de cuidar deles. Gina ficou devastada, fechou-se em casa durante meses, não se alimentava, não dormia. Ouvia vozes, uma dela bem distinta: Laura.
"Gina? Gina?"
Olhou para cima enquanto enxugava os olhos às mangas da túnica.
"Sr. Netherfield... perdoe-me, eu... não sei que dizer."
"Não diga nada. Tome um banho, arranje-se, recomponha-se. Você é agora a Governanta, aja com tal!"
Retirou-se em direcção à sala seguido de Constança que ostentava um sorriso triunfante.

Clementiiiiiiiiine, ó Clementine??

Não havendo sinais de Clementine Tangerina (férias?) e como secretário de Blogostado proponho à nossa Chefa Suprema e Prenha até ás Orelhas que continue a saga de Gina e sua vagina.
É que a mulher já está quase a completar a sua segunda maratona...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O que é aquilo que passou por ali a correr de túnica?

É a Gina, que corre, e corre, e corre...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Que corredor enorme, gina!

E a Gina corre...
E corre...
E corre...
E corre...

...
...
...

domingo, 2 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão - Possessão

- Vista isto. Não sei se é o seu número, mas não importa. A vaidade é um dos disfarces do demónio.
Gina abre os olhos e vê a túnica que Constança lhe atirara. Bastou-lhe um olhar para perceber que está nua. Olha à volta. Aquela cama de dorsal alto, a lareira, a pele de leão que repousa sobre o chão. Não está no quarto que lhe foi atribuído.
- Mas o que... O que estou a fazer aqui? Como vim cá parar?
Vê Constança. Traz uma farda preta com colarinho e punhos brancos, e o cabelo preso atrás num coque apertado. O seu olhar é de puro esgar.
- Como todas as outras antes de si.
Vira-se para sair, mas ainda diz:
- O Senhor gosta do desjejum servido às sete em ponto. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.
A porta fecha-se. Gina cerra os olhos, constrangida... terá acontecido outra vez? Lembra-se de alguns flashes da noite anterior.
Chamas. Fogo.
O corpo de um homem maduro e experiente. Os seus lábios que se tocam e se fundem num só pecado compartilhado. A sua intimidade que é profanada com vigor. A memória arranca de si um grito de susto e benze-se, caindo de joelhos ao pé da cama, sobre a pele de leão, ainda nua como veio ao mundo.

Laura. Foi Laura mais uma vez.
- Senhor Meu Pai, lavai-me dos meus pecados, lavai-me dos meus pecados...
Gina chora convulsivamente.
- O senhor é meu Pastor, nada me faltará... Em verdes prados Ele faz-me repousar...
Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças da minha alma...
Não consegue concentrar-se.
- Foi Laura! Foi Laura! Senhor, protegei-me, Senhor, protegei-me desse súcubo que de mim se apodera...!
Volta a fechar os olhos, em prece frenética.
- Pelos caminhos rectos Ele leva-me...
Sente um toque em sua mão. Um objecto. É o seu rosário. Sobre ele, uma mão masculina. Não se vira.
Aquela figura ajoelha-se encaixando o quadril nu de Gina ao seu próprio, enlaçando-a pela cintura. Sussurra-lhe um murmúrio quente.
- Eu rezo consigo.
O calor... Ela conhece aquele calor. Engole em seco.
É o calor de Laura a chegar.
- Pode ser que assim Deus nos perdoe a ambos, - continua o murmúrio morno por trás da sua orelha.
Gina assente, sem nada dizer. O fervor daquele momento de fé a dois suplantará a luxúria de Laura, que a invade. Concentra-se.
- Pelos caminhos rectos Ele leva-me...
- Por amor de Seu nome, - completa o murmúrio.
- Por amor de Seu nome... – Gina repete, como se por algum passe de magia o salmo que recitava sempre que era invadida por Laura lhe tivesse sido varrido da memória. A sua concentração estava toda nas mãos que agora tinha a certeza serem da noite passada. Aquelas mãos perscrutavam-lhe o ventre, desciam pelas suas coxas em direcção ao fruto mais proibido.
- Eu rezo consigo, Gina.
Sente um leve toque húmido no seu lóbulo. Uma pequena mordidela. Um gemido. Arrepiando caminho pelas suas pernas, uma mão a invade, premindo com dedos firmes alvos certeiros que nem sonhava existirem.
- Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei... – murmura aquele homem, ou aquele anjo.
- ... Pois estais comigo!, - é quase um grito que lhe sai da alma.
Sente um volume crescente a fazer-lhe pressão sobre as nádegas e, num momento, já não há nada que separe o seu corpo do corpo do anjo que reza consigo. Não, desta vez Laura não vencerá. O que é a nudez se não algo divino, engana-se Gina. Nós chegamos nus ao mundo. Toda nudez é divina, convence-se. A masculinidade daquele anjo desconhecido encontra o caminho mágico para a levar para outra dimensão, e penetra-a num só fôlego. Ela fecha os olhos com força e já grita o seu salmo protector.
- Vosso bordão e Vosso báculo são o meu amparo!

E assim chegam as ondas de calor que lhe dizem que fora derrotada pela volúpia, pela mácula. A sua cabeça pende para trás e deixa-se banhar nos sucos daquele homem, na sua saliva, nos seus dentes, nos seus dedos exploradores, no seu sexo encantado. Deixa que Laura a invada sem qualquer obstáculo, mais uma vez.
- Oh, Thomas...
Neste momento, como se tivesse dito uma palavra mágica, tudo pára. As mãos largam-na. O homem põe-se de pé. Gina não ousa olhar ainda.
- O-obrigado por este momento, menina Gina.
A voz é imberbe, adolescente.
- Nunca me esquecerei deste momento e pode contar com a minha discrição. O meu padrasto nada saberá.
Passos firmes dirigem-se para a porta. Gina ainda se vira.
- Daniel!
Mas a porta já se fechou.
As memórias da noite anterior voltam a assombrá-la de outro ângulo.

Teria de arranjar uma forma de se livrar de Laura.
Não poderia dar-se ao luxo de perder mais um emprego.
E de mais uma casa sucumbir a um incêndio.
Aquele rasto de destruição e volúpia teriam de ter fim, nem que precisasse de se sacrificar a si própria no processo.

Olha para o relógio por cima da lareira. São 6h50m. Gina alcança rapidamente a túnica que lhe fora destinada, veste-se desajeitadamente e sai do quarto, correndo pelo corredor em direcção à cozinha.
Numa das curvas da casa, esbarra em Constança, que limpa uma salva de prata, mas não pára, continua a correr, como se de si própria fugisse.
- Já está muito atrasada, menina Laura. – diz-lhe Constança.

Mas Gina já não ouviu.

sábado, 1 de agosto de 2009

Dulcolax para a Melissa

Então vem uma gaja passar o fim de semana ao hotelzinho de beira de estrada, deita-se na cama, pronta para ler uma coisa light, uma pornochachada ligeirinha para ajudar a dormir mais tranquilamente e nada???!!!! Melissa se estás com prisão de ventre toma Dulcolax e deixa a merda fluir.