Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

domingo, 12 de julho de 2009

Do outro lado da Mira - O dia da caça

- Já percebi. É um ataque de riso nervoso. O seu corpo podia ter respondido com choro convulsivo, mas pelos vistos...
Mas João não conseguia parar de rir. Tentava começar uma frase, mas falhava.
- Pelos vistos você é o do tipo irónico – Ana estava cada vez mais impaciente.
- Não, não, não, - disse João, a limpar as lágrimas histéricas e a tentar retomar algum fôlego – diga-me só uma coisa...
Mas não completava. Gargalhava como um louco. Ana revirava os olhos. João vai conseguindo controlar-se.
- Você tem um quadro de uma mamma italiana que aparentemente vale a vida da minha mulher, que está nas mãos de um tipo qualquer saltado do túnel do tempo. Até aqui tudo bem, se não fosse o...
Mais gargalhada. Mais revirar de olhos.
- ... O facto de você ter um CC e um BCC!
Ana levanta-se já completamente impaciente.
- Podia por favor recobrar a sua compostura?
João levanta-se instantaneamente, pondo-se de frente para ela.
- Posso recobrar toda a compostura do mundo, Dra. Copy/Paste, se você se dignar a dizer-me, por amor de Deus, desde quando Tarantino trabalha para os Apanhados, porque esta merda já me está a dar A VOLTA AOS MIOLOS!
João já está aos berros.
- POR CAUSA DO QUADRO DUMA PUTA DUMA VELHA!
Ana encolhe-se com o último berro.
- Sem ofensa à sua bisavó, é claro.
Há um momento de silêncio em que João volta a sentar-se.
- Posso fazer-lhe uma pergunta?
João assente. Não deve haver nada que ela não saiba.
- Quem o enviou para me matar?

- Não sei.
- E quem está a proteger-me?
- Diga-me você.
Ana levanta-se, está claramente nervosa. Saca de um maço de tabaco da mala, oferece um cigarro a João que aceita prontamente.
- Pode não acreditar, mas estou tão às aranhas quando você. A mim também não me dizem nada.
Ana estaca. Descaiu-se. Abre-se um leve sorriso nos lábios de João.
- Você...
Ana cerra os olhos. Dá uma passa nervosa no cigarro. João levanta-se, aborda-a por trás.
- Você está numa missão também.
João encosta-se a ela, respira na sua nuca.
- Quem é o seu alvo, Ana Casaco?
- Não é tão simples quanto parece.
Já falou. Mas que merda, o que aconteceu ao seu profissionalismo?
Vira-se.
- Não estamos exactamente no mesmo meio, João. Mas pode acreditar numa coisa...
A sua voz é rouca, quente.
- Para mim, a única coisa que importa é o quadro. Mais nada. Para proteger o quadro, não olharei a meios.
Agarra na mala, amarra um lenço sobre os cabelos e põe os óculos à Jackie Kennedy. João sabe que não é o momento de tentar escapar. Os anos naquele ramo ensinaram-lhe que um dia é da caça, outro do caçador.
- Você vai ter de ficar aqui, agora. Mas vai ter notícias minhas em breve. Se se portar bem, posso ver se descubro alguma coisa sobre o meu protector e... a sua mulher.
Leonor. Claro. O Chanel nº 5, a voz rouca e toda aquela história louca de Ana o tinha envolvido de tal forma que a sua mulher tinha passado para o fim da fila.
- Se não puder vir, mando alguém em meu nome.
- Uma das suas irmãs?
Ana já está à porta.
- Irmãs?
- Sim, as duas mulheres ontem... no restaurante?
Ana sorri um meio sorriso misterioso, sem nunca levantar os óculos.
- Ne te laisse pas influencier par la première image. Jamais.
Bate a porta. João ouve três fechaduras a serem encerradas. Está sozinho com Francesca.

4 comentários:

Melissa disse...

Será que eram alucinação? Acho que não.

Miguel disse...

A Ana é a mesma pessoa que o mendigo do aeroporto!!! Pelo menos disse a mesmíssima frase... Melissa, confesso: deste-me um nó no cérebro!!

Fuckin' Dan Brown style!!!

Ana C. disse...

o João já tinha percebido que não havia 3 irmãs, a Ana é que lhe tinha dado um alucinogéneo, tu não me tragas as 3 lambidas de volta! Quem está a precisar de um comprimido sou eu depois deste episódio, ainda por cima estou com défice de neurónios :)

Melissa disse...

Acho que pode ser e pode não ser.