Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Do outro lado da mira: Ne te laisse pas influencer par la première image.

João saiu calmamente do restaurante. Estava confuso e ele detestava isso. Toda a sua vida tinha sido simples como um disparo. Avistava o alvo, encurralava-o e puxava o gatilho. O seu coração acelerava, sentia a urgência do tempo a passar. "Vinte e quatro horas", pensou, "tenho 24 horas para descobrir como vou salvar Leonor, apanhar o quadro e, mesmo assim, evitar matar Ana." Sentia que aquela mulher era inocente no meio de toda a história, um peão manietado por alguém. "Sérgio Andrade". Calmamente, desceu a Av. Champs Elysées enquanto colocava as ideias em ordem. "Preciso do quadro para salvar Leonor, mas se o entregar a Sérgio o Banco mata-me. Ana foi bem clara quanto ao valor que o quadro tem para ela, por isso não o vai entregar sem luta. Mas porquê? E a vigia, a quem respondia ela? E quem é Mel?" Demasiadas perguntas, pouco tempo para responder. João tomou uma decisão " Vou fazer como sempre: sigo o meu instinto. Disparo primeiro, pergunto depois!"


Entrou no quarto de arma em punho e uma mulher igual a Ana esperava por ele. "Olá Mel!" disse com um sorriso para logo disparar um tiro certeiro no seu peito. Ela caiu, uma máscara de desespero cobriu a cara que antes ostentava um ar superior e arrogante. Agarrou o quadro e dirigiu-se à mulher, agónica e a tremer de frio. "Diz-me para quem trabalhas e poupar-te-ei a horas de sofrimento..."

"Eles sabem que o Sérgio tem a tua mulher..." respondeu com uma voz quase inaudível "o quadro, querem o quadro..."

"Eles?? Quem? QUEM?"

"O Banco."

João disparou um tiro certeiro na testa de Mel.

"O Banco? Mas como?.... MERDA!!" Vasculhou o corpo da mulher que jazia morta em frente a ele. Pesquisou a sua face, afastou o cabelo e descobriu. Uma pequena linha de sutura denunciava-a. Mexeu-lhe na face e esta mexeu, como se se soltasse dos ossos. "Disfarçaram esta agente para se parecer com Ana. Queriam estar certos que eu lhes levava o quadro..." Já não se tratava apenas de uma missão normal, era um teste de lealdade ao Banco. Saiu com o quadro embrulhado num lençol e pensava em Ana. O que lhe teria acontecido? Sentia-se aliviado pois uma das exigências de Sérgio foi deixar Ana em paz. Mas o seu instinto dizia-lhe que ainda a iria encontrar. O telefone tocou. A mesma voz sensual e feminina que lhe ordenou a missão. "João, meu querido! Tens um avião á espera para regressares a Lisboa. Ah, e trás o quadro sim?"

"Mas, Leonor..."

"Sabias que este era um trabalho perigoso. Nunca devias ter-te envolvido." Desligou.

Mais uma chamada. Leonor. "Olá meu velho! Tens 12 horas para entregar o quadro. Lisboa, no parque de estacionamento por baixo da Vasco da Gama." Mas como estavam ambos os interessados tão bem informados acerca dos seus movimentos?? Olhou em redor e viu-a. A vigia jogava nos dois campos. Ela acenou-lhe e desapareceu nas ruas escuras de Paris.

Nas quase três horas de viagem entre Paris e Lisboa, João considerou todas as suas hipóteses. Sabia que, mal pusesse pé na pista de aterragem estaria a ser vigiado pelo banco, Lisboa pertencia-lhes, eles eram intocáveis. Mas Leonor. Apesar de já não sentir nada por ela, devia-lhe respeito. Não podia simplesmente deixá-la morrer. Mas, mesmo que conseguisse resgatar Leonor e manter o quadro na sua posse, mesmo que entregasse o quadro ao Banco depois de salvar Leonor, eles nunca iriam permitir que voltasse à organização. E ninguém sai do Banco. Vivo, pelo menos. Em Lisboa a sua chefe aguardava-o. Uma mulher madura, nos seus cinquenta, mas muito bonita e elegante. Entrou no carro. "João. O quadro?" Ele olhou para trás e ela viu o motorista colocar o quadro na mala do carro. "Muito bem. E Leonor?" João saiu do carro sem dizer uma palavra.

A noite cobriu Lisboa. O parque designado por Sérgio era convenientemente afastado e pouco iluminado. Uma carrinha preta estava parada ao fundo do parque. Dois homens saíram da carrinha quando João se aproximou. Armas apontadas, caras tapadas "O quadro?" perguntaram.

"Onde está Leonor?" A porta traseira da carrinha abriu-se e um terceiro homem arrastou para fora uma mulher com a cabeça coberta. Reconheceu o vestido e a pulseira de Leonor.

"O QUADRO??"

"Calma, calma... cá está." retirou uma tela cuidadosamente enrolada de dentro do casaco. Quando matou Mel reparou numa reprodução exacta do Modigliani pousada em cima de uma mesa. Devia fazer parte de um qualquer plano de fuga de Ana. Agora esperava que o pudesse ajudar.

"E a Ana? Morta? Não fazia parte do acordo..."

"Não sei da Ana! Tanto quanto posso imaginar foi eliminada por outro agente do banco... não tenho nada a ver com isso."

"Muito bem... façamos então o nosso negócio."

"Sérgio Andrade... ao telefone não o imaginei um cobarde! A esconder a cara... Mostra-te!"

"EU SOU SÉRGIO ANDRADE!!" uma voz feminina ecoou entre os pilares da Ponte e saiu das sombras.

"Quem? LEONOR....? Mas... como...." João nunca se tinha sentido tão surpreendido e tão perdido. "TU!?!?"

"Meu amor... sempre me julgaste uma mulher fútil, desligada, um pouco burra até. E tinhas a tua razão, afinal eu nunca quis ver quem tu eras. UM MENTIROSO!! Com quantas mulheres já estiveste depois de mim? QUANTAS JOÃO? Dei-te tudo de mim, aguentei as tuas "viagens de negócios" como chamas ás tuas aventuras. E depois aquela foto. Aquela mulher, aqueles olhos, aquele olhar. Sabia que nunca podia competir com aquilo!! Eu, a tua mulher usada e chata, a quem tu rejeitas chamadas e carinho. Aquela que tu FODES quando chegas a casa frustrado do trabalho!! Eu sou o caixote do lixo das tuas frustrações... olha o que me fizeste..."

Então era isso. Leonor estava tomada pelos ciúmes "Leonor, eu... estás louca."
"CALA-TE!" deu um sinal ao homem que segurava a mulher misteriosa e este revelou-lhe a face: Ana!
"Agora, meu cobarde, QUERO QUE A MATES!!! MATA-A JÁ OU MORREM OS DOIS!"
João tentou ganhar tempo. Mais uma vez estava certo, Ana era uma vítima.
"Mas como? Como descobriste? Quem são estes homens?"
"Quando vi a foto desta PUTA na tua secretária decidi que bastava. Estava farta das tuas mentiras. Estes homens? Não é difícil encontrar quem esteja disposto a matar por uma boa quantia. Que vai sair da tua conta, já agora!! Depois eles encarregaram-se de encontrar quem te seguisse em Paris e raptaram esta desgraçada. E cá estamos nós."
"Amadores." Pensou João "Uma cambada de amadores..."
"DISPARA!" gritou Leonor.
João disparou. Um tiro certeiro no pescoço de Leonor acabou com ela, seguido quase simultâneamente por um tiro na cabeça do raptor de Ana. Os dois outros homens largaram as armas e fugiram, apavorados. Ana chorava compulsivamente e João abraçou-a.
"Desculpe, desculpe João... eles ameaçaram matar-me..." o choro tomou conta dela.
João aproximou-se do corpo de Leonor, baixou-se e acariciou-lhe a face "Não me deste escolha."
Pegou em Ana e desapareceu. O telefone tocou "João, seu malandreco!!" era a sua chefe "a missão está concluída, o cliente ficou satisfeito com o seu novo Modigliani! Viu as fotos da "Ana" que mataste em Paris nos jornais e ficou deliciado!! Estás livre por agora. E a Ana?"
"Está comigo."
"Leonor?"
"Morta."
"E o que vais fazer com o quadro?"
"O quadro?"
"João, a besta que pagou esta missão não quis saber do quadro. Pendurou-o numa parede de uma das suas mansões e nunca vai olhar para ele. Mas eu sei que me entregaste uma réplica... o que vais fazer com ele?"
"Devolvê-lo à sua legítima dona."
FIM!!!
PARABÉNS ANA!!!!



9 comentários:

Melissa disse...

Miguel, tu DOMINAS. Escreves tão bem que até dói.

Miguel disse...

(corado)Melissinha, desculpa se te aleijei!!
Obrigado.

Melissa disse...

Ná, era festim.

Ana C. disse...

Eu já tinha na minha cabeça que a Leonor era a grande bitch por detrás disto tudo!!! Em sintonia!!!
Muito bem. E só para que saibas Melissa este Miguelito, fui eu, ouviste bem, eu que lhe descobri a veia de noveleiro!!!!
Parabéns Michael, sempre em grande!

Miguel disse...

Obrigado, Obrigado... avançamos para o romance quase-porno (desculpa MST)? Ana, tens o obséquio de começar?

Banita disse...

Gostei muito! Grande volte face! Way to go! yeah!
Parabéns a todos!
B'jinho

Melissa disse...

Haha a Ana tem a panca de descobrir as coisas! É o Caramulo, é a veia novélica do Miguel...
Há que se lhe dar crédito sempre!
(chuac! :D)

Melissa disse...

(Tenho pena de esta história ter acabado. Acho que tinha potencial. Podemos ter um tomo 2 depois de vocês largarem a besta erótica que anda a fazer comichão nos vossos teclados e relaxarem, né?)

Clementine Tangerina disse...

ohhhh terminou...!