Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Palpitar da Paixão - Constança

Gina participava nas tarefas de gestão daquela imensa mansão com um rigor espartano. Entre os dedos o rosário lembrava-a que não se desviasse, que não seguisse por aquele calor que a invadia sem aviso. Apertava as contas de madre pérola com uma força que lhe vincava a pele e desviava todo o seu pensamento para a limpeza das pratas, orientação das refeições, ordens aos serviçais.
Era Virgínia Pureza quem encarnara nela e era precisamente essa Virgínia que não podia perder nunca mais. Por muito que precisasse de se sentir amada, desejada, tocada, possuída isso não era o mais importante.
- O Sr. Netherfield gosta que as pratas sejam areadas todos os dias.
A voz de Constança era pausada, grave. Como uma espada que rasgava sem pudor o silêncio.
- Ela passava horas a limpar as molduras com as fotografias de família.
- Ela quem? – Gina sentia-se meia atordoada ainda com a aparição inesperada daquela estranha personagem.
- A Sra. De Netherfield, a falecida. – A voz prosseguia como um sussurro secreto. – Sabe que ela ainda anda por aqui a vigiar-nos a todos.
Instintivamente o rosário foi esmagado entre os dedos suados de Gina.
- Que disparate tão grande Constança, não tem nada para fazer? A roupa de cama foi engomada?
Mas Constança não desarmava o sorriso sinistro.
- Porque é que pensa que nenhuma governanta parou por aqui mais do que uns dias? Ela expulsa-as sem dó, nem piedade. A Sra. Netherfield jamais deixará outra mulher, além de mim, perto do marido. Ela só confia em mim. Ela sabe que o marido nunca me tocou, como fazia com as outras rameiras que se esfregavam nele como gatas no cio…
Gina ensaiou uma resposta, mas Constança já virara costas em direcção à escadaria. Enquanto a via subir os degraus um arrepio de horror trespassou-a ao meio, quebrando-a. Gina conhecia aquele olhar, aquele sorriso, aquela voz agora madura lembrava-a de outra voz infantil, não, não podia ser, não era possível, Laura estava morta...

Ao fechar a porta do pequeno e bolorento quarto que lhe pertencia, Constança soltou uma gargalhada gutural, bem de dentro de si. Dirigiu-se à gaveta da cómoda carcomida e com a chave que trazia ao pescoço, abriu-a, retirando do seu interior um pequeno molho de fotografias antigas, muitas delas meio queimadas pelo fogo.
Duas meninas de tranças olhavam-na do lado de lá do papel, como se ainda vivessem, como se pudessem sair de lá a qualquer instante. Rasgou a imagem ao meio, dividindo o abraço das amigas em dois, o seu olhar faiscava no mais terrível dos fogos, o da inveja.
Guardou os dois pedaços de novo e retirou agora uma fotografia de Daniel, assim que lhe tocou perdeu a força nas pernas e caiu sobre o colchão de palha mal cheiroso. Aqueles olhos, aquele rosto, os cabelos em desalinho .
Fez descer “Daniel” por dentro da sua roupa, passou pela zona onde a pele não sentia, aquela mancha acastanhada e enrugada, aquela gigantesca cicatriz que lhe roubara a possibilidade de amar. Prosseguiu a descida aos infernos que a deixava louca e pousou a fotografia bem ali, onde nunca ninguém tocara, esfregando-a como se quisesse arrancar a sua própria virgindade daquela boca infernal. Sentindo Daniel sobre ela, beijando-a no lugar onde tudo começava e acabava.
- Beija a tua Laura, suga-a bem aí. A Laura gosta Daniel, sim...
Mas o bater na porta arrancou-a ao êxtase. Um bater furioso, determinado, violento.
- Abre já esta porta!!!!! Eu sei quem és Constança, eu sei quem és!!!!!!
A voz de Gina gelou-a por dentro.

11 comentários:

Nuvem disse...

bem... e as reviravoltas continuam :)
excelente trabalho Ana
beijinhos

Ana. disse...

Isto está cada vez melhor!!
Palminhas para a Ana!

Poético e misterioso q.b.!

;)

Melissa disse...

BOA! Estava a pensar em algo nesse sentido :)
Mas ainda há espaço para reviravoltas.

Miguel disse...

Pronto... Ana e Mel, as raínhas das reviravoltas em conluio...
MUITO BEM Ana! Gostei desta nova nuance na história e acho que vamos ter ainda cenas de sexo muito bem esgalhadas à custa desta nova menina...

Ana C. disse...

Nuvem, nossa seguidora número 1. Fico contente por saber que gostaste :)

Ana C. disse...

Ana. eu gosto é de dar twists na história. Que é como quem diz, lixar o próximo concorrente :)

Ana C. disse...

Melissa primeiro pensei que a Gina era esquizofrénica, mas com a volta que o Miguel deu, a Laura só podia estar viva...

Ana C. disse...

Miguel sem reviravoltas não tem graça. Batatas quentes é o melhor nisto tudo ;)
Conto contigo para não deixares morrer o apetite de Constança AH AH AH

Melissa disse...

ahamm ainda não vimos amor lésbico ahamm fui.

Ana C. disse...

Melissa a caneta é toda tua, não é? Mete-a ao serviço do que quiseres ;)

Miguel disse...

Para Mel, que é a seguir: "the pen is mightier than the... dildo!!"