Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

domingo, 15 de novembro de 2009

O Inverno e a Aldeia 19

Meu Querido Diário
Depois de uns dias de indisposição que me atiraram à cama, regressei à escola. Escondi o melhor que pude o ventre que me encurta já os vestidos e de peito erguido enfrentei os olhares a que já me acostumei.
Todas as noites rezo por uma solução, Deus me perdoe, por um desfecho natural a este meu estado. Já pensei pedir à tia Maria das Dores que me desse a tragar uma das suas mezinhas, mas falta-me a coragem e penso ir já muito adiantada no tempo para poder desmanchar o que fiz.
Os meus alunos falam de mim de cada vez que me viro para a ardósia e sinto os olhares dos habitantes cada vez mais enraivecidos na minha direcção.
Podia jurar que me fazem uma espécie de vigília durante a noite, pois escuto cantilenas bem próximas da minha porta. A falta de coragem leva-me a fechar todas as janelas e esconder-me debaixo das cobertas, por isso ainda não pude confirmar as minhas suspeitas. Mas quando amanhece encontro rastos de cera e vestígios de velas ardidas espalhadas em redor da casa.
Que mal me quer esta gente sisuda e como estou arrependida por ter trilhado o caminho que me trouxe aqui.
O meu amado continua longe e sem saber que espero um filho, não tenho amigos, não tenho posses além do pouco que ganho na escola e não sei que passo dar além de um pé à frente do outro todos os dias.
As forças faltam-me. Amanhã falarei com o Vigário. Não sei porquê, mas alguma coisa me diz que é nele que devo buscar conforto...

20 de Novembro de 1951

2 comentários:

Nuvem disse...

e a historia tem tantos lados e tantas pontas que não posso esperar por as ver todas unidas :)

made in ♥ love disse...

adorei este blog


Um beijinho
Eduarda
Be in ♥ love g!!!!!!!