Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Eu Quero Matar a Minha Mulher: 605 Forte

Prudêncio abafou uma gargalhada que pareceu ter vida própria quando lhe saiu disparada pela boca. Com uma destreza manual e de raciocínio que lhe pareceu estranha, agarrou no saco de veneno para ratos que se lhe apresentara em tão boa altura e despejou duas colheres se sopa do pó mortal para dentro da chávena de café de Alzira. "Para os ratos era preciso uma colherinha de café, por isso estas devem ser suficientes...". O café borbulhou por instantes e Prudêncio adicionou bastante açúcar. "Não querias o café doce?? Vai bem docinho....". Voltou-se para Alzira sem conseguir disfarçar o sorriso que lhe permanecia indelével nos lábios. "Lá estás tu com essa cara de parvo... já te conheço, pá! Se descubro que andas a tramar alguma... levas tantas no focinho que não vais ter vontade de rir por muito tempo!". Calmamente, sem temor Prudêncio deu a chávena de café a Alzira que a devorou em segundos. O silêncio da cozinha deixava ouvir o barulho que Alzira fazia a deglutir o café. Um som demasiado semelhante ao que os esgotos da casa de banho faziam quando despejava a banheira depois do banho. Os olhos brilhavam ao ver o veneno desaparecer bem fundo nas tripas da velha matrafona maljeitosa!
"Finalmente um belo café, homem!! Não te imaginava tão jeitoso mas isso só prova que só aprendes à porrada... enfim, a partir de agora fazes sempre o café assim. Isto se não queres que to enfie nas trombas ainda quente." Prudêncio via os lábios de Alzira, emoldurados pelo bigode lustroso pelo sebo de muito bacon, a mexer mas não ouvia nada. A sua mente imaginava já Alzira a agarrar-se ao pescoço, os olhos a querer saltar das órbitas, a face a ficar roxa e depois preta, a rolar no chão respirando ruidosamente e a espumar da boca, a borrar-se e a mijar-se toda, a suplicar por ajuda tentando agarrando-o com os braços prostrados em desespero enquanto ele gritava "Morre porca, MORRE!! Ah, Ah, Ah!!!". Acordou com um berro de Alzira e só depois pensou que nunca tinha visto ninguém morrer daquela forma. Andava a ver muitos filmes. Esperou e... nada! Alzira mantinha-se firme como sempre. Devorou todo o bacon e ainda pediu mais café (que levou o mesmo tratamento do anterior) e não aconteceu nada. Prudêncio amaldiçoou a sua sorte. "Será possível que esta mulher não morre?!?! Mas que raios! Bem dizem que vaso ruim não quebra...", os seus pensamentos foram interrompidos quando Alzira se levantou, derrubando a mesa e correu para a casa de banho. Prudêncio conseguia ouvi-la a vomitar, uma vez após outra, e depois sentiu o cheiro fétido da merda líquida que lhe jorrava em jacto do olho do cu peludo. Prudêncio nem sentia a aura de esgoto que agora empestava a casa. "Não era isto que imaginava mas se vais esvair-te em merda até morreres, tanto melhor!! Que sofras o máximo possível e, afinal, sempre foste uma mulher de merda e morrerás numa poça de merda." Alzira saiu do WC e parecia menos mulher. Pálida, os olhos encovados, vergada e encostada ás paredes. Parecia até mais magra. "Que raio de café de merda fizeste, meu cabrão??! O bacon devia estar estragado... como sempre não posso confiar em ti, minha amostra de homem, filho de uma puta sarnenta que não te conseguiu abortar... é isso que tu és, um desmancho mal feito!" Dirigiu-se para o quarto apoiando-se nas paredes e nos móveis velhos e empoeirados do corredor. Derrubou todas as figuras de bonequinhas e passarinhos que tinha em cima desses móveis, juntamente com os naperons que lhes serviam de base, enquanto grunhia mais alguns insultos a Prudêncio. Era o que fazia sempre.
Aquele dia passou, Alzira já nem se dava ao trabalho de ir à casinha cagar ou vomitar. Sacou do velho penico de porcelana que jazia esquecido debaixo da cama e fazia ali mesmo, berrando depois para Prudêncio o despejar. Ele começava já a perder a paciência e rogava pragas para tentar acelerar o processo. Mas Alzira não morreu. Ao outro dia acordou sã que nem um pêro e, antes de abrir a boca, pregou-lhe um estalo tão grande que Prudêncio cuspiu um dente podre que teimava em permanecer no seu buraco. Ele estranhou aquela ausência, passava o tempo a passear a língua pelo local onde antes estava o dente preto e esburacado que se enchia de comida a cada refeição. Esperou que Alzira saísse da cozinha para a sua rotina de higiene que consistia em lavar a face, os sovacos e "por baixo". "Todos os dias que eu sou mulher asseada." gostava de pregar nas conversas de mulheres. Abriu o armário e pegou no saquinho prateado. Cheirou, parecia-lhe um pouco menos intenso e procurou a data de validade: 01/1999!!! "Dez anos?!?! Isto está aqui há 10 anos?? Estúpido, estúpido, estúpido!! A ânsia de a matar é tão grande que nem vês os meios falíveis que utilizas. Pensa homem, pensa... sabes mais do que ela te quer fazer acreditar..." Mas, por outro lado, não deixou de se rir ao lembrar-se da valente caganeira que tinha causado a Alzira. Riu-se por um pouco e descansou. A próxima vez seria bem planeada. Só tinha de procurar uma forma mais eficaz de lhe limpar o sebo. Sentou-se a ler o jornal do dia e, num canto da primeira página, uma pequena notícia chamou-lhe a atenção: "Casal de idosos encontrado morto em sua casa". Procurou rapidamente a página mencionada e leu o resto da pequena notícia: "Um casal de idosos foi encontrado morto esta manhã em sua casa. Estavam os dois na cama, sem sinais de assalto ou violência. Os bombeiros encontraram o esquentador ligado mas sem ventilação adequada. Pensa-se que a causa de morte tenha sido intoxicação por monóxido de carbono. É frequente uma vez que esta gás não tem cheiro e é invisível. As vítimas não se apercebem que estão a ser envenenadas e adormecem nos braços da morte.". Prudêncio fechou vagarosamente o jornal. Os olhos estavam postos no infinito e os seu lábios afilados por um longo sorriso maquiavélico.
Desculpem a demora OK?? Ana... deixo a batata a escaldar nas tuas delicadas mãozinhas de escritora!!! Beijinhos...

5 comentários:

Ana C. disse...

Miguel tento escrever no meio das lágrimas que empastelam os meus olhos. Não são lágrimas de comoção, mas de riso, muito riso.
Porra que estavas inspirado!

L. disse...

Bem, além da náusea habitual no desenrolar desta blogonovela, tenho de admitir que me fizeste rir.

Ana, agora és tu :P

beijinhos

Miguel disse...

Ainda bem que gostaram... acho eu. É estranho constatar que sempre que falo de... bom, fezes e vomitado, vocês riem-se!!!
Ana, é o que se chama uma inspiração de caca!!

Banita disse...

Estiveste mais uma vez, muito bem, Miguel! Agora vamos lá ver o que a Ana reservou para o Prudêncio e para a "nossa" Alzira nojenta, mas higiénica! LOL

Carla disse...

Já li há uns dias. Na altura nem comentei porque estava assim que, agarrada à barriga.
Gostei especialmente de saber que a Alzira se lava por 'departamentos' e TODOS os dias e desde essa altura quase nem consigo perceber qual o problema do Prudência.
Mulher asseada e tal...o que é que ele quer mais? LOL