(Documento prioritário.)
Diário da Viagem, dia 56.
Parti dos montes onde me tinha acomodado nos últimos dias hoje, pela fresca. O dia estava esplendoroso e quente. Estranho para o mês de Novembro! Caminhei algumas horas descendo pelas rochas menos íngremes das montanhas e cheguei à planície ao início da tarde.
Hoje fui, mais uma vez confrontado com o poder da Natureza, afinal a principal razão desta viagem só comigo e com a minha mochila. Uma viagem de auto-conhecimento através da Mãe Natureza, uma caminhada espiritual de confronto comigo mesmo e com os meus limites. Uma espécie de eremita itinerante. Mas, dizia, a Natureza tem os seus mistérios e o dia, que amanhecera radioso, escureceu abruptamente. O Sol pareceu ter-se escondido atrás dos imponentes calhaus que dominam estas terras. No final da tarde avistei um pequeno aglomerado de casas. Inicialmente foi-me difícil percebê-las tal era o peso do nevoeiro sobre elas. As casa pareciam espectros flutuantes que apareciam e desapareciam a seu bel-prazer. Não vi habitantes. Ao chegar apercebi-me que se trata de uma aldeia deserta! Que privilégio o meu de poder caminhar onde já só os fantasmas do passado vagueiam.
Entrei em algumas casas, muitas ainda com vestígios de vida: as mesas, as cadeiras, algumas fotos de família. Certamente ninguém voltou a este local inóspito para reclamar os pertences dos seus queridos. Acho que pertencem ao monte agora. Deixei-os ficar. Escrevo à luz das velas da velha capela, guardado pelos santos que me olham dos seus altares.
(fim de página, ler página seguinte.)
Diário da Viagem, dia 57.
Este (nódoa) está amaldiçoado. A luz do dia permitiu-me ver melhor. Há crucifixos (nódoa), de cabeça para (nódoa). Alguns espalhados pelas ruas. Os cães selvagens que me têm seguido desde (nódoa) desapareceram. O nevoeiro é (nódoa) pesado. Pesa sobre os ombros, dobra-nos, retira-nos a alegria. Em algumas casas as paredes estão manchadas com (nódoa), como se alguém tivesse atirado latas de tinta contra elas. Mas não é de tinta que se trata... tremo (nódoa)... sangue!
Durante todo o dia senti-me seguido mas, cada vez que olhava (nódoa) o nevoeiro. Maldito nevoeiro... não fui capaz de encontrar um (nódoa) saída deste lugar. Cada rumo que tomava trazia-me de volta a (nódoa), a igreja. Ouço uivos mas não há cães e os lobos não se aproximam. Há algo de malévolo (nódoa). Partirei log
(Documento encontrado junto a cadáver ainda não identificado. Resto da página coberta de sangue. Não existem mais entradas.)
3 comentários:
já nem sei o que dizer mais... está verdadeiramente excelente.
acho que este é o conto que mais gosto ate agora - e da rapidez com que os capítulos se sucedem :)
beijinhos e bom fim de semana a todos
PS - está a dar muito trabalho escrever como deve ser, por isso as frases a começar em minúscula ;)
ARREPIANTEEEEEEE
Adorei! Não é por nada, mas isto está a ficar muito bom :)
Muito bom mesmo!
Aguardo ansiosamente o próximo capítulo!! (que bom ser leitor de um mistério assim!! Obrigada aos Fab3)
;)
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