Prudêncio chegou ao hospital já cadáver. O comentário mais profundo que fizeram à sua chegada foi "Porra que cheira a porco queimado!". Nem na morte aquele homem parecia inspirar particular respeito ou admiração. Alzira estava zangada. "Maldito homem, nem morto me dá descanso... agora tenho que andar a caminho do hospital por causa dele. E o dinheiro que vai custar o enterro..." Ainda sugeriu ao médico que queimassem o corpo mirrado de Prudêncio juntamente com os lixos do hospital... sem sorte.
O enterro foi simples e solitário. A imagem fiel da vida do homem. Alzira, o padre e dois homens que costumavam trocar dois dedos de conversa com Prudêncio, que lá estiveram por compaixão do que por amizade. A alocução do padre acerca do morto foi interrompida com um "Despache lá isso. " disparado secamente por Alzira, que nem esperou que o caixão descesse à terra para se retira. Voltou para casa com um sorriso nos lábios "Enfim, livre! Livre daquele traste inútil, de um homem sem força da braguilha, um desgraçado que só me trouxe trabalho." Entrou em casa triunfante e inspirou profundamente. Abriu um sorriso (coisa rara!) que revelou a boca negra e com apenas três ou quatro dentes esburacados e amarelos. Sentiu o cheiro da cozinha queimada e amaldiçoou Prudêncio uma vez mais. Caminhou pesadamente pelo corredor cujas tábuas velhas e bolorentas cediam e rangiam a cada passo, observando os seus cacarecos de cristal e porcelana, os seus naperons poeirentos, as imagens de santos e quadros com paisagens ou naturezas mortas pendurados aleatoriamente pelas paredes e chegou ao quarto. Deitou-se exactamente a meio da cama, como se reclamasse finalmente para si o espaço partilhado durante tantos anos, e adormeceu.
Acordou com o sol da manhã a bater-lhe nos olhos e berrou: "PRUDÊNCIO! PRUDÊNCIO? Raio do hom..." a lembrança da morte do marido bateu-lhe inesperadamente forte demais. Levantou-se e foi preparar o pequeno-almoço. Na cozinha semi-destruída preparou um café e um naco de pão torrado. A cada movimento se lembrava dele. Bateu com a palma da mão na testa "Esta agora... acorda mulher!" Saiu de casa e logo os vizinhos se apressaram a apresentar as suas condolências que se revelaram bem mais dolorosas do que ela imaginara. Passou um dia triste e cinzento. Prudêncio fazia-lhe falta. Não podia dizer que o amava. Nunca o amara, mas foram anos de convivência e partilha e ele nunca a tratara mal. Prudêncio era o seu animal de estimação, o seu cãozinho irrequieto a quem pontapeava e dava com o jornal, mas que nunca lhe rosnava e voltava sempre para ela. Além de que, sempre lhe dava algum prazer... não que fosse um animal sexual mas ela, embora não o confessasse, nunca tinha deixado de ter um orgasmo. Fraquitos é certo, mas mesmo assim vinha-se sempre! Ao regressar a casa sentiu-se sozinha. Aquele velho T1 parecia-lhe agora enorme e os seus passos pareciam agora ecoar por toda a casa. Ao jantar, deixou praticamente toda a comida no prato. Não tinha apetite e cozinhar nunca tinha sido o seu forte. Prudêncio tratava disso por ela e, diga-se que os pratos vinham sempre bem apaladados.
Sentou-se ao sofá a ver a novela. Os actores principais beijavam-se loucamente enquanto se despiam e, atabalhoadamente, se dirigiam para o quarto. "Ai, Prudêncio, Prudêncio. Sempre me fazes alguma falta afinal..." suspirou. A imagem de Prudêncio assaltou-lhe a mente. Aquela postura sempre submissa e com medo de levar um tabefe, as mão entrelaçadas junto ao peito, os olhinhos de cachorro medroso atrás daqueles óculos que só aumentavam a pena, os dentinhos de ratinho a espreitarem por cima dos lábios fininhos despertaram-lhe saudade. E um arrepio no fundo das costas. Alzira sabia o que isso significava mas Prudêncio não estava ali para lhe apagar o fogo "nos entrefolhos", como ela dizia. Fechou os olhos enquanto pensava nele e, acto contínuo, afundou a sua grande manápula por entre a gordura das coxas que sempre lhe faziam lembrar aquele boneco que tinha recebido de uma oficina, há uns anos atrás. Afastou as pernas e colocou a mão por cima da "boca do mundo". Estava quente e molhada. Estremeceu ao enfiar dois dedos dentro de si mesma mas logo recuou. "Ai meu Deus! Que grande pecado... perdoai-me Senhor", benzeu-se mas o toque daquela mão húmida a cheirar a luxúria carnal só lhe aumentou a vontade. Voltou a colocar a mão entre as coxas que ondulavam ao ritmo do movimento frenético da mão. Esfregava vigorosamente e enfiava os dedos no seu buraco. Primeiro um, gemeu. Depois outro. O terceiro fê-la abafar um pequeno grito. "Só mais um..." e os quatro dedos penetravam nas suas mais recônditas entranhas. "Prudêncio... quem me dera que aqui estivesses... sempre me preenchias mais que isto, se bem que nunca to disse... ai, Prudêncio..." ofegante e suada, decidiu que as suas mãos não eram suficientes para lhe satisfazer o desejo. Esfregando-se enquanto andava pela casa, procurava algo que lhe enchesse as medidas do prazer. Abriu gavetas e armários, no quarto, na sala, na casa de banho. Percebeu o que precisava assim que o viu: uma velha garrafa térmica que jazia esquecida no fundo de um armário da cozinha. Aquela tampa em forma de bola-cortada-a-meio tinha um aspecto sugestivo. Não pode deixar de sorrir ao constatar que aquela garrafa era a cópia exacta da picha circuncidada de Prudêncio, muito embora em ponto grande. "Tanto melhor!" pensava enquanto de deitava no sofá com as pernas o mais afastadas que era capaz. O frio da garrafa ao penetrar naquele túnel quente arrepiou-a mas logo passou. Começou devagar, a medo, nunca tinha feito aquilo e temia magoar-se mas as dimensões e o laxismo dos seus músculos pélvicos logo lhe exigiram mais vigor. Acelerou os movimentos e esforçou-se por se lembrar da cara de Prudêncio quando fodiam como cães. Lembrou-se e urrou de prazer. Mais rápido e ela sentia o desfecho a aproximar-se com a imagem de Prudêncio a aumentar de nitidez na sua imaginação. Os olhos pequenos fechados vigorosamente, pequenas gotas de suor a escorrerem pela careca e os lábio unidos com os dentes a morderem o inferior. Alzira combinou os movimentos de vai-vem da garrafa com movimentos circulares e capitulou! Gritou de prazer como nunca o tinha feito e veio-se. O seu corpo contorceu-se, tremeu e caiu do sofá. A luz apagou-se.
Alzira acordou num local desconhecido. Olhou em volta e não viu nada mais que montanhas despidas de verde. Estava numa escarpa, de um lado o vazio e do outro a entrada para uma caverna. À porta da caverna reconheceu um vulto magro e curvado sobre si mesmo. Poderia ser ele? Avançou em direcção à caverna, lentamente, como se receasse o seu destino. O vulto saiu das sombras. "Prudêncio?"
"Sim Alzira. Sou eu."
"Onde estamos? Que cheiro é este? Prudêncio... perdoa-me... senti a tua falta."
"Eu sei Alzirinha. Este cheiro de que falas é enxofre e esta é a nossa nova casa. Vamos entrar?"
"Sim Prudêncio. Vamos entrar!"
"Isto é uma descida longa e íngreme... não te assustes."
Avançaram juntos em direcção às trevas.
Uns dias mais tarde uma vizinha foi ver da Alzira. Não era normal tantos dias sem sair, por muito que estivesse de luto pelo marido. Encontrou-a morta no chão, pernas escancaradas com uma garrafa térmica enfiada nas partes baixas. O falatório não tardou e deu conversas durante algumas semanas. O tempo para a autópsia revelar a causa de morte: ruptura de aneurisma cerebral com hemorragia maciça após esforço e tensão muscular intensa. Morte imediata.
2 comentários:
Ah, ah, ah, ah, ah!!!
Foi a maior f*** da vida da Alzira!! E a última também!! E ainda por cima a pensar no Prudêncio!! ah, ah, ah!!
As voltas que a vida(neste caso, tu, Miguel) dá!!
Parabéns! Gostei!
Na verdade, o Prudêncio acabou por conseguir os seus intentos!! Sem bem que o fez indirectamente, talvez incorporando a (bendita?) garrafa térmica!! Na verdade e no fim, eles gostavam um do outro. De uma forma retorcida, é certo, mas gostavam. Acabaram por ficar juntos, e isto é uma história de Amor.
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