Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Um Estranho Caso de Amor - Uma Luz na Escuridão

Rodrigo continuou a correr pela cidade. Não importava como chegaria até ela, a única coisa em que pensava era que tinha que chegar o quanto antes. Toda a distância que o separava de Helena deixara de fazer sentido e tinha que a encurtar. Era só isso que importava, diminuir o espaço entre ele e a mulher que amava.
Como é que pudera sequer duvidar de si próprio, como é que pudera supor que seria capaz de trair Helena na sua própria casa? Tinha-se em fraca conta mesmo.
As decisões foram-se formando dentro de si em catadupa, uma após a outra. Largaria o escritório, precisava de mais tempo para eles, para a família que estava prestes a ficar maior. Diria à mulher que a amava todos os dias. Não deixaria que o passar do tempo se tornasse pesado, pelo contrário, renovaria o seu amor diariamente as vezes que fossem precisas.

Helena despediu-se da imagem da filha a preto e branco. Pois em breve iria tê-la nos seus braços, iria ver o rosto que imaginara vezes sem conta ao longo daqueles nove meses. Olhou para o seu médico com um sorriso:
- Então Dr. está tudo bem com ela?
Mas a expressão do médico sempre tão bem disposta, hoje estava grave e preocupada.
Helena desfez o sorriso enquanto olhava a mão experiente do médico às voltas com a pequena sonda.
- A Helena já não volta para casa hoje. O batimento cardíaco dela está muito fraco. Temo que esteja em sofrimento.
- O que é que isso quer dizer?
- Talvez seja melhor ligar ao seu marido. Se quer que ele assista à cesariana…
- Não! Ele… O meu marido não vai assistir. Mas está tudo bem com ela? Por favor Dr. não me esconda nada. O que é que ela tem?
- Eu vou ligar para o bloco, saber se há uma sala disponível para nós. Se quiser avisar alguém…
Helena tentou desfazer o tremendo nó que lhe sufocava a voz e agarrou no seu telemóvel com as mãos trémulas. Olhou a imagem no monitor e tentou dizer à sua filha que esperasse, que em breve se iriam conhecer. Que não desistisse agora.

- Helena? António estranhou aquele telefonema logo após o telefonema de Rodrigo. – O Rodrigo conseguiu falar contigo?
- António alguma coisa não está bem com a minha filha, o meu médico acha melhor fazer uma cesariana o quanto antes.
- O que é que não está bem? – A voz de António tentava parecer o mais tranquila possível.
- Acho que está em sofrimento, não sei. Por favor, eu gostava que estivesses perto de mim. Tens sido o nosso ancoradouro durante estas semanas, eu preciso de ti, mais do que algum dia precisei de alguém.
- Mas o Rodrigo não te ligou mesmo?
- Eu não quero saber do Rodrigo. Vem António, quero-te ao meu lado.


Rodrigo estava perto do hospital, conseguia já sentir os braços de Helena em redor do seu pescoço, imaginar o olhar dela quando ouvisse o que realmente acontecera. Estava tão perdido naquela imagem que não viu a ambulância que se aproximava em marcha de emergência, nem sentiu o embate. Foi tudo demasiado rápido. Primeiro estava em frente ao hospital e pensava em Helena, depois tudo ficou escuro e sem som. Era como se tivesse regressado ao útero materno. Uma sensação quente, de voltar a casa. As vozes de pânico muito ao longe, portas a baterem, buzinas, pânico, muitos gritos. Mas ele estava bem, aliás, ele nunca estivera tão bem em toda a sua vida. Podia finalmente descansar de tudo aquilo. O rosto de Helena, a sua voz, as suas mãos pálidas acariciavam-no agora e ele deixou-se ficar.

A sala de partos era pequena e impessoal. O anestesista pediu-lhe que não se mexesse enquanto lhe aplicava a epidural. António sorria-lhe com um sorriso que iluminava toda a sala. Helena focalizou-se nele. Naquele homem que sofrera por ela, vivera por ela, respirara por ela nos últimos dias. O que fizera para merecer tanta dedicação estava para além da sua compreensão. Mas sabia que com ele não haveria turbulências de maior. Tudo era sereno e despreocupado. Tão diferente da sua vida com Rodrigo.
Ele tentara dizer-lhe qualquer coisa acerca do marido, mas ela nem quisera escutá-lo. Aquele era o momento mais importante da sua vida e não estava disposta a estragá-lo com a imagem de Rodrigo e Diana.
Só António e a sua filha a mexer-se no seu interior é que lhe haviam dado força para continuar e sabia agora que não estava disposta a deixar aquele homem ao seu lado sair para fora da vida delas.

O choro da sua filha quebrou aquele encantamento e quando a viu teve a certeza absoluta que não precisava de mais nada para ser feliz....

11 comentários:

Miguel disse...

SACANA!!! MAS... ATROPELADO!!!! Então o homem vai em direcção à felicidade e tu ATROPELAS o desgraçado??!?!?!
Rai's partam... é no que dá um gajo por-se a escrever com mulheres. Ainda por cima profissionais...
LOL
;)
Muito bem! Não estava à espera desta...

Ana C. disse...

Miguel (Sem C) tinha que dar uma voltinha de nada à história. Afinal de contas não havia nenhuma batata a escaldar para ti e eu já não sei passar sem te deixar essa herança ;)

Rainha disse...

Estava tudo tão bem encaminhado e de repente... mais uma desgraça acontece ao pobre rapaz! Vá Miguel arranja lá as coisas rápidamente.

Sílvia disse...

Mas só acontecem desgraças ao rapaz?Parece um iman com os hospitais =/

bjo***

Ana C. disse...

Rainha Mãe calma que pode ser que ele sobreviva a esta e depois a espera aumenta sempre o desejo :)

Ana C. disse...

Sílvia ele é um gajo cheio de azar. Já ouviste a expressão bater no ceguinho? Aplica-se a ele...

R disse...

Coitado do rapaz,não lhe bastava a doença e a operação, agora um atropelamento. Quando parecia que tudo ia ficar bem, a Ana C. atropela o desgraçado. Vamos ter esperança que se salve, ao menos! Cá estarei para o próximo capítulo.Beijinhos

Ju. disse...

E tu tinhas de atropelar o rapaz Ana!?.. Como será que Helena vai ficar agora? Com a filhota nos braços, as revelações de Rodrigo e com a omnipresença de António?.. Eu que sempre torci pelo António (tudo bem que o Rodrigo tinha um tumor e foram tudo alucinações mas pronto), agora estou dividida.. Fico á espera do próximo episódio =)

Ana C. disse...

Mariinha são tiques de novela :) Não resisti a roubá-los um do outro mais um bocadinho...

Ana C. disse...

Ana oi só uma passagem a ferro eainda por cima por uma ambulância. Podia ter sido pior :) Confesso que também estou dividida...

Miguel disse...

Ah, Ah, Ah!! (riso maquiavélico) O futuro de todos está nas minhas mãos, meninas!!!~
O que irá acontecer? Nem eu sei...