Alzira sentara-se na mesa da cozinha e fitava-o enquanto ele lhe fritava o bacon para o pequeno-almoço. Havia qualquer coisa diferente nele, ela só não sabia bem o quê.
Uma espécie de riso idiota na sua expressão que não estava lá no dia anterior. Prudêncio era submisso na cama, atendia-a, obedecia-lhe sem grande ardor, mas o suficiente para lhe tirar os calores. Agora o que se passara essa manhã era novidade. Ser ele a praticar um bocadinho de dor durante o acto sexual? Geralmente era ela quem lhe batia. Agora o contrário? Decidiu romper o silêncio do bacon a frigir ao lume:
- Que cara de estúpido é essa? O que é que te deu hoje para me enfiares a almofada nas ventas?
Prudêncio treme, pensa rápido:
- julguei que gostasses…
- Gostar que me vomites em cima? Tu estás a mangar comigo? Raça do homem, que besta que me saíste.
Prudêncio enche o prato dela de bacon gorduroso e reza interiormente para que as artérias dela expludam de uma vez por todas.
Ela enfia uma tira escaldante para o interior da boa cavernosa enquanto o fita com olhar de lince.
- Tu estás-me a esconder alguma coisa? É que se eu descubro que estás com ideias…
O bigode dela parecia agora alagado em essência de bacon. Ele escondeu mais um arrepio de repulsa, enquanto se sentava com a sua caneca de café, olhando em volta. Buscando ideias luminosas no interior da cozinha. Mas logo foi despertado por um estalo que quase o virou ao contrário.
- Olha para mim!!!!
- Porque é que tens que ser sempre tão violenta? Começo a ficar farto disto! Tu sabes que ainda olham para mim na rua. Nada me impede de te trocar por outra!
O riso dela propagou-se por cada divisão daquela casa húmida. As gargalhadas eram guturais, deixando ver a comida já mastigada no interior da sua boca.
- Quem é que olha para ti diz lá. Uma merda de um homem como tu. O que é que tu tens que faça virar cabeças na rua? Uma verga murcha e seca, um monte de ossos sem préstimo, duas pernas de alfinete que nem para marcarem bainhas servem de tão finas. Enxerga-te e traz-me mas é café, que só consigo olhar para ti depois de duas chávenas dessa mistela que fizeste!
Prudêncio arrasta-se pela cozinha e de açucareiro vazio na mão abre a despensa para tirar o açúcar.
- Quero essa zurrapa bem doce!
Ele lança a mão ao pacote de açúcar, desta vez rezando interiormente para que o diabetes a leve com gangrena, ou coisa pior, quando bate os olhos no veneno para ratos, pousado na prateleira inferior. Mais uma vez é trespassado por um flash luminoso. E sabe que tem que agir depressa, muito depressa. Um sorriso pérfido molda-lhe os lábios finos e molhados enquanto escuta a mastigação ruidosa de Alzira...
Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.
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10 comentários:
'duas pernas de alfinete que nem para marcarem bainhas servem de tão finas'.
Esta Alzira tem um sentido de humor que é obra! :)
(ok internem-me!)
Veneno para ratos vai resultar, se o Prudêncio tiver coragem...
Carla a Alzira é um poço de surpresas :)
Banita se o Prudêncio tem coragem, ou não, isso é com o Miguel...
Esta Alzira é um ser no mínimo... Estranho (pra ser simpática)
bjinho***
Sílvia qualquer dia apresento-te a Alzira ;)
Eh pah, esta vai ser a BLOGONOVELA que mais náuseas me deu... espero que quando esta acabar não venha outra deste género que isto tem de ser lido com muita cautela :P
L. tens que ler isto em jejum. Aí é que está o truque da coisa :)
Parece-me que o Prudêncio está a refinar métodos... teremos um Serial Killer em potência?
Miguel há mulheres que transformam um homem de Deus, num homem do diabo :)
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