Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Eu Quero Matar a Minha Mulher: resolução

Prudêncio era um homem de meia-idade, baixo, magro. Usava óculos de massa preta com lentes grossas e escurecidas. Calvo, tentava esconder a sua alopécia puxando o pouco cabelo que lhe restava, lateralmente, para cima da cabeça ficando com o risco junto ao lóbulo da orelha e apenas uns fios de cabelo sobre a careca luzidia. Os dentes desalinhados faziam com que soltasse grossos perdigotos de saliva e acumulava saliva seca e branca no canto dos lábios. Sempre fora tímido e reservado. A auto-estima era baixa e muito afectada por anos de rejeição por parte das mulheres. O seu casamento com Alzira surgiu porque ele sempre achou que nunca seria capaz de encantar melhor mulher.
Mas Prudêncio era bom homem. Apesar de maltratado por Alzira durante anos, sempre lhe perdoara. Afinal ela fazia-o mais para descarregar as suas frustrações. Afinal, também Alzira não devia nada à beleza e Prudêncio sentia-se na obrigação conjugal de suportar essas provações. Nunca tiveram filhos. Apesar de o médico ter afirmado que Alzira era estéril, ela dizia a toda a gente que Prudêncio "estava seco" e que não cumpria com as suas obrigações na cama. Que estava sempre "murcho" e que ela precisava de "mais homem" e que só não ia embora porque Prudêncio "não seria nada sem ela" sendo ela a vítima. Sendo ele um homem já de si tímido, ainda mais se fechava quando era gozado no café lá da rua. Continuava a lá ir porque era menos doloroso o gozo dos amigos do que as queixas de Alzira. Mas nunca respondeu a provocações aprendendo a tornar-se quase invisível. Só não o conseguia porque era frequente Alzira entrar no café aos berros, na sua voz esganiçada e rouca, que ele era um inútil e que fosse já para casa.
Ao fim de quase três décadas de cenas semelhantes a estas no café, no mercado, na rua, no médico, e as constantes verborreias caseiras de Alzira, Prudêncio perdeu a paciência... numa noite a juntar às muitas que já passara em branco, levantou-se e dirigiu-se à cozinha. Pegou na maior faca que encontrou e regressou ao quarto. De pé, ao lado de Alzira, elevou a mão com que segurava a faca, olhou para o peito imenso e disforme daquela mulher. Ela roncava ruidosamente enquanto o seu peito pouco ou nada mexia, tal o peso que suportava. Um fio de baba pendia do canto da boca e molhava o ombro. Prudêncio sentiu um sentimento que há anos o atormentava sempre que via a sua mulher a dormir e, finalmente foi capaz de o definir: náusea. O seu coração batia, as pernas adormeceram, o braço termia. Preparava-se para desferir o golpe quando Alzira mudou de posição. Assustou-se, as pernas abandonaram-no e caiu no chão. Levantou-se e voltou para a cozinha. Chamou-se cobarde um milhão de vezes e arrumou a faca na gaveta de origem. Sentou-se e soube que tinha de matar Alzira. Passou o resto da noite a congeminar um plano.

7 comentários:

Ana C. disse...

AH AH AH Este casal é verdadeiramente repugnante. Vamos lá a ver que plano sairá da careca luzidia do Prudêncio ;)

L. disse...

Bem... Até eu tenho náuseas ao ler estas descrições. Mas muito interessante, sim sr.

Até me ri :P oh Ana obrigada pelo comentário no meu cantinho :D

beijinhos

Miguel disse...

Bom, a partir daqui é sempre a descer... até à cova da Alzira!!

Banita disse...

Ainda não li o post, mas já volto para comentá-lo! Entretanto, Miguel ou Ana C. podem ir buscar o prémio no Banitos que está à vossa espera. Até já!

Banita disse...

Como sempre muito bom! Estão a ver? Por isso é que vocês merecem um prémio! É que até arrepia!!

R disse...

Miguel:
Ela é uma aberração, mas o Prudêncio também é horrível. Vamos lá ver agora do que ele é capaz. Bjs

Mitá disse...

Miguel Deus que me livre de me crusar com essa Alzira....vamos ver o que se segue...eu vou voltar para ver o resultado vem tambem ao meu blog conhecer um pouco de uma vidfa atribulada looool....bjs