Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mais de Corpo que de Alma

- Eu nunca fiz isto antes.
- O quê, foder?
- Parvo.
Ele afasta a pequena mecha de franja que lhe cobre o olhar e sorri.
- Desculpa. O que é que nunca fizeste antes?
- Conhecer um homem ao jantar e acordar com ele para o pequeno-almoço.
- E?
Ele beija-a sem a brusquidão da noite anterior. É um beijo novo, renovado pela manhã de sol que entra pela janela dentro.
- E tenho a cabeça a mil. Fiz bem, fiz mal, vou-me arrepender, vou bater com a cabeça nas paredes. Vais-me ligar, não me vais ligar, gostaste, odiaste. No fundo, no fundo, achaste que tenho as mamas demasiado pequenas, o rabo flácido e…
- Falas sempre tanto?
- Que sou uma chata do caraças. Falo pelos cotovelos, ou fico completamente muda. Enfim, vais-me achar esquizofrénica, vais sair por aquela porta e nunca mais vais pensar na nossa noite.
- Qual é o mal das mamas pequenas?
- Fazes parte dos 3% da população masculina que não gosta de mamas até aos joelhos?
Ele passa a mão ao de leve sobre os lábios dela e desce até aos dois pequenos seios, firmes e espetados na sua direcção.
- Gosto das tuas.
Ela sorri. Ele sorri.
- Chega-te?
- Chega-me. Sou estupidamente pouco exigente. A cada ano que passa, baixo a fasquia.
- Por isso é que acabaste na cama comigo.
Ela olha aquele homem pouco musculado, não muito alto, com a pele demasiado branca pela falta de sol e acha que, de alguma estranha forma, ali tudo é equilíbrio. Os imensos olhos castanhos, a boca rasgada e os dentes perfeitos, compensam o nariz finamente espartano. O tom da sua voz enche todo o espaço que sobra entre eles e até o seu hálito quente, com o resto do vinho da noite anterior, é estranhamente agradável.
Ela roda na cama e coloca-se sobre ele, envolvendo-o com todo o seu corpo. Ficam abraçados, imóveis, sentindo apenas o que é de um e o que é do outro. O telefone toca na sala. Ela não ousa mover-se. Sente-se dona daquele momento. Ele fecha os olhos e deixa-se ficar sob o cheiro, por dentro do calor daquela mulher comum, que transformou a sua noite numa rajada de emoções que desconhecia.
- Gosto do teu cheiro.
- Também gosto do teu.
Beijam-se e olham-se de novo, como se quisessem gravar-se na memória um do outro para sempre.
Ele empurra-a com suavidade, na direcção do lençol amarrotado e quente e procura-a por dentro.
Os beijos prosseguem, nem depressa, nem devagar. Ao ritmo que tem que ser. Não há ainda amor, nem nada de profundo. Mas há a possibilidade. Há tudo o que poderá ser e que eles esperam que seja.
Ela sussurra-lhe ao ouvido:
- Eu fico com o teu número…
- Porquê?
- Não quero ficar à espera que me ligues.
- Combinado…
Mas um som cavo e inconfundível toma conta daquela pequena divisão iluminada. Um som que não podem fingir não ter escutado. O último som que ela desejava ouvir tão cedo.
- Foste tu que te peidaste?

9 comentários:

Ana. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana. disse...

Welcome back!!

Ahahaha! Que regresso em grande!
Que fim!!!

Cê always on top of her game!!

Melissa disse...

hhahahahahahahah que ideia fixa, meu Deus.

Ana C. disse...

Estou plenamente convencida que, dependendo das circunstâncias, um peido pode arruinar um começo de relação.

Miguel disse...

Um gajo não pode ir de férias...

disse...

Ana C. vim aqui dar vinda de um blogue, de outro blogue, de um outro blogue...e do primeiro que era o meu. Desculpa a intromissão.
entrei e comecei a ler com toda a atenção a prender-me na estória e eis senão quando...tive que voltar atrás e voltar a ler as últimas linhas...ainda pensei que era novamente o télélé a tocar e que ela não queria ouvir :)
Muito bom, mesmo!!!
Mas afinal foi ela ou foi ele!?
:)
Beijinho

Ana C. disse...

Té F. este blogue funciona assim:
Um de nós começa e um dos outros tem que continuar.
A decisão estará nas mãos de quem pegar na história a seguir :)
Só que os meus colegas de escrita SÃO UNS PREGUIÇOSOS.

Naná disse...

estão aqui verdadeiras pérolas de escrita.
esta é uma delas!

Sandra disse...

ahahahahahahahah
Muito bom!!!!!!!!!!