- A esta hora Sr. Prior?
Os olhos de Joana brilhavam de surpresa.
- Como me disseste que os ruídos chegavam ao anoitecer decidi vir, para que não os escutasses sozinha. Juntos vamos perceber o que se passa realmente, que ruídos são esses à beira da tua casa.
Joana não sabia se havia de rir, ou chorar de agradecimento. O Prior levou a mão ao bolso, acariciando a pequena adaga que trouxera da capela que abraçava o rosário meio escondido nessa parte da batina.
- Tem sido tão bom para mim…
- Porque é que não desligas as lamparinas? Quem quer que venha não tem que nos ver aqui dentro a espreitar a janela.
- Claro, claro. Eu nunca espreitei, pois morro de medo de ver alguma coisa que não quero. No fundo, no fundo, por pura falta de coragem.
As palmas das mãos de Alberto estavam húmidas de pânico. Sabia que aquelas alucinações eram a prova viva que Joana estava possessa, que residia nela o mal de todo S. Vicente da Lua. Ele sabia-o bem dentro de si, mas por outro lado quando a via assim, desprovida de chagas, de rubores, de malícia, sentia que estava perante a mulher mais pura da aldeia. Pureza de alma. Enquanto a via desligar as lamparinas com uma fé cega no seu conselho desejava estar errado, desejava ouvir realmente as cantilenas que ela dizia escutar. Rezou com fervor para que começassem os gritos no escuro, as velas acesas lá fora, pois assim não teria que usar aquela adaga que lhe ardia como fogo entre os dedos.
Ao longe, abrigado do frio por uma grossa samarra de lã grossa, Júlio olhou mais uma vez a casa onde o esperava o filho e tremeu quando viu a fraca luz que a iluminava apagar-se, deixando tudo em seu redor envolto na mais completa bruma. Estugou o passo da burra e sentiu que a sua própria vida dependeria da velocidade a que conseguisse alcançar a aldeia.
Há quem goste delas curtas, há quem as aprecie mais longas, mas para nós o tamanho não importa, uma história merece sempre ser contada.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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5 comentários:
Muito bom Ana
Realmente...vale a espera :)
beijos e bom feriado :)
Ó por favor, não matem a tadinha da Joana!
Este trio (o Júlio o Padre e a Joana) tem tudo para acabar com os mauzões!!
Preciso de um happy end!!
;)
"E quando quero ver aquele amor meu, eu pego no burrito e lá vou eu!!" MUITO BOM!!
As coisas estão a compor-se...
Eia o que vai por aqui...
A Anacê inspirou-se no burrico da minha Maria.
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